Manaus – Considerada uma das cobras mais perigosas do mundo, apesar de não ser venenosa, a sucuriju é conhecida por, ao dar o bote em sua ‘vítima’, apertá-la até que sua circulação sanguínea pare e os ossos sejam triturados. Assustador? Talvez.
Mas para o roteirista amazonense Eduardo Gomes, em artes marciais, como o MMA, o jiu-jítsu e afins, a força da cobra é igualada a dos lutadores — mas sem o intuito de matar, claro. Fazendo essa ‘leve’ associação, Gomes então criou o longa ‘Sucuriju – A Lenda Vive’, que está sendo gravado desde o ano passado e segue até 2018.
“Esse filme conta a história de Nato, um cara pacato da cidade de Manaquiri (interior do Amazonas), produtor de carvão e farinha, que entra em atrito com o ‘barão’ da cidade, durante uma feira. A luta é filmada por um professor de MMA, que está na cidade com a família, entrega seu cartão e as imagens acabam se transformando em um ‘viral’, na internet”, conta o roteirista, que também encarna o papel de protagonista do filme.
Segundo ele, a decisão de ser o ator principal deve-se às características regionais e ao fato de praticar jiu-jítsu há mais de 20 anos. “Ao mesmo tempo em que ele se torna conhecido, em Manaus, por conta do vídeo, Nato enfrenta sérios problemas financeiros, em sua cidade natal, pois o tal ‘barão’ proíbe os comerciantes de comprarem os produtos produzidos por ele”, revela.
Sem ter o que fazer e para onde correr, o futuro astro do MMA decide entrar em contato com o professor que fez a sua filmagem e que passa a treiná-lo, até chegar ao Mr. Cage Championship, considerado o principal evento de MMA da Região Norte. “Ao chegar na competição, ele precisa enfrentar o lutador Adriano Balby, que retornou, recentemente, da Rússia, e segue para o Japão, onde luta, hoje”, lembra ele.
E, como todo ‘mocinho’, Nato ganha a luta, consegue dinheiro para tirar sua família da miséria e decide voltar para Manaquiri, deixando todos ao seu redor bastante frustrados. “E, na verdade, este é que é o verdadeiro drama de Nato. Como disse, ele é um cara pacato, do interior, não tem pretensão alguma de ser um astro ou famoso por conta de sua força descomunal”, argumenta Gomes.
Gravação
Ao todos, 50 profissionais, todos locais, estão envolvidos na gravação de ‘Sucuriju – A Lenda Vive’. O longa, que está com 30% rodado e tem direção de Pablo Potter, não possui nenhum tipo de apoio financeiro e, justamente por essa falta de orçamento, mistura, de certa forma, ficção e realidade.
“Como não temos verba para contratar atores, por exemplo, estamos contando com as participações de lutadores profissionais. A nossa próxima gravação será dentro de uma edição do Mr. Cage, onde teremos público, ringue e, claro, profissionais. Se fôssemos desembolsar o valor para montar toda essa estrutura, não sairia menos de R$ 30 mil. Mas, o empresário Samir Nadaf, responsável pelo evento, abraçou o nosso projeto e nos deixou à vontade para usarmos toda a sua estrutura. Esse longa está sendo feito todo na base de grandes parcerias”, comenta.
Gomes destaca, ainda, a importância que o MMA possui dentro do Amazonas. “O nosso Estado é uma verdadeira fábrica de lutadores. A história do Nato se confunde com a de muitos que, por não terem apoio, seguem para outros Estados e ganham fama lutando por lá. Manaus produz muitos campeões que lutam no Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba”.
Distribuição
Envolvido com o audiovisual desde 1993, Gomes se ‘gaba’ de ter seu longa sendo produzido somente por amazonenses. “Para começar, não temos a tradição de produzir longas, pois sabemos das dificuldades financeiras que enfrentamos e paramos nos curtas. E, quando esses grandes filmes são gravados aqui, o staff é quase todo de fora. Mas luto para que toda a minha equipe seja do Amazonas”, diz.
Envolvido em documentários e filmes para BBC, National Geographic e Animal Planet, ele já manteve o primeiro contato com uma distribuidora alemã. “Eles ficaram bastante interessados nesse projeto e, por conta disso, tive que aumentar o tempo de duração do filme. Ele começou com 60 minutos e foi para 80 minutos, pois eles querem lançá-lo durante o Festival de Berlim”, finaliza.
Fonte: Diário do Amazonas/D24 Am